quinta-feira, 2 de setembro de 2010

sobre IRACEMA VOA, por Paulo Faria



Tive a honra de receber as palavras de Paulo Faria sobre o espetáculo Iracema Voa...divido com vcs!
Bjs
Ester

A Memória que avoa em Iracema de Ester

Belém é uma das cidades que mais tem investido na dramaturgia do ator-criador. Prova disso é o singelo e carismático espetáculo “Iracema Voa”, da atriz Ester Sá, que através de bolsa do Instituto de Artes do Pará, desenvolveu um rico material sobre a folclorista e atriz Iracema de Oliveira.
O espetáculo apresenta um relato da atriz Ester que se amalgama a história da personagem Iracema. Vai envolvendo aos poucos o público, que, vai conhecendo a história de uma das pioneiras na arte dramática paraense, que iniciara sua carreira na rádio marajoara, ao lado de Nilza Maria, quando foi dirigida no teatro por Cláudio Barradas, e no cinema, por Líbero Luxardo. E que hoje dedica sua vida aos Pássaros e Quadrilhas Juninas – ofício que desenvolveu ainda na juventude. As coisas se religam no tempo.
A cenografia do espetáculo é muito acertiva e simples. Uma grande colcha de retalhos vai revelando e compondo os cenários e figurinos das histórias narradas pela atriz. Toda a estrutura é como retalhos que vão sendo costurados. Fotos antigas do movimento teatral paraense são distribuídas ao público. Espetáculos, como “Cobra Norato”, “Papagaio”, “A Paixão de Ajuricaba”, “A Casa da Viúva Costa” - participei desta montagem e fiquei curioso para ver se estava ali, mas esta foto não chegou a minha mão. Delícia de viagem.
Outro grande mérito do espetáculo é o de colocar o público para dialogar, seja no manuseio de tais fotos, seja numa genial cena em que a atriz distribui as falas de personagens para o público, numa primeira leitura de um possível ensaio de um pássaro – texto escrito pela irmã de Iracema. Na platéia Cláudio Barradas e Andréia Rezende leram a deliciosa intervenção. Ao disponibilizar o texto para os atores na platéia, Ester recupera e socializa a forma de escrita dos circos ou das formas populares, que só entregavam aos atores as suas falas, seguidas das deixas, sem se ter acesso ao texto como um todo. Lembro quando visitei um circo do Tubinho no interior de São Paulo, onde fomos nos apresentar uma vez. O circo é do sul com tradição dos dramas circenses. Seus textos eram assim produzidos. Cada encadernação dos atores possui somente suas falas e deixas. Divertido.
Ester fez uma costura preciosa e generosa de nossa história. A cada cena uma revelação cativante. Parece que o teatro despetalava perfumes e músicas, despertando grandes emoções. A música é algo muito presente no jogo da atriz. Seja nos cordões populares que aparecem mecanicamente ou em sua bela voz ao vivo. A atriz canta com técnica apurada, buscando eco na forma de cantar do rádio de outrora.
Assisti a peça no Festival de Teatro Territórios, onde Ester ao lado de Nando Lima, é realizadora. A estada em Belém foi deliciosamente aproveitada por mim em cada instante. E Ester veio em minha bagagem. Como aquelas malas antigas e grandes cheias de compartimentos. Minhas memórias organizadas. Lembranças que havia em muito se perdido nos teatros de Belém. Voavam acima das mangueiras. Amigos voltaram. Em meus olhos uma lente de lágrimas refletia a atriz.

Afetuosamente,
Paulo Faria
POSTADO POR PESSOAL DO FAROESTE ÀS 13:57 1 COMENTÁRIOS

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